MANANCIAL

MANANCIAL
"Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada". (Cânticos 4:12)

sexta-feira, 13 de maio de 2016

UM POUCO A RESPEITO DE SINAIS.

O CAJADO SE TRANSFORMA EM SERPENTE 

A palavra “sinal”, no hebraico original, é “ôt” (נֵס) e significa, além de “sinal”, “marca”, “emblema”, “símbolo”. No grego koiné: sêmeion (σημειον) = sinal.

Exemplos de “sinais” na Bíblia.

1. A circuncisão foi o sinal da aliança entre Deus, Abraão e sua descendência (Gên. 17:9-13).

2. A obediência e o amor exclusivo ao Deus de Israel seria o sinal de vitória aos israelitas, se, contudo, eles aplicassem seus corações em observar e cumprir todos os mandamentos e estatutos do Senhor (Deut. 6:1-19 – “Atarás por “sinal” na tua mão e por frontais nos teus olhos”, verso 8 – a palavra “mãos” quer dizer “obras”; “por frontais nos teus olhos”, à frente dos olhos, quer dizer: observância, referência, guia, pensamentos regidos, retidão de caminhos...). 

3. As maldições pronunciadas sobre o Monte Ebal (Deut. 27 e 28) seriam o “sinal” da desobediência do povo israelita a Deus (Deut. 28:45-46).                          

4. A vara transformada em serpente, a mão que levada ao peito ficou leprosa e depois voltou a ser sã, a água tomada do rio que se tornou sangue ao tocar a terra seca, foram os “sinais” ao povo de Israel que Deus havia aparecido, falado e enviado Moisés  para libertar Seu povo (Êxodo 4:1-8).                                                                          

5. A sombra que retrocedeu dez graus no relógio de sol de Acaz foi o “sinal” de que Ezequias, rei de Judá, estava curado da enfermidade e teria mais quinze anos de vida acrescentados pelo Senhor (Isaías 38:5-8).                                               

6. Os atos do profeta Ezequiel sob o comando de Deus foram o “sinal” de que Jerusalém e todo o povo de Israel seriam levados em cativeiro na Babilônia (Ezequiel 12:1-12). 
                                                                                                         

7. O dom de línguas é “sinal” para os infiéis e a profecia “sinal” para os fiéis (1 Cor. 14: 22). Infiel: desobediente, traidor, incrédulo, desleal.

A SERPENTE DE BRONZE LEVANTADA NO DESERTO – O povo “cansou” do “caminho de Deus” e ficou “enfastiado” (enjoado) do “pão do céu”, o maná. É exatamente isto que está escrito em Números 21; pelo que Deus enviou “serpentes ardentes” “entre o povo” para matá-los, e morreu muita gente. Os que se arrependeram pediram ao Senhor que as serpentes se retirassem deles, mas não foram atendidos, porém, Deus ordenou que Moisés fizesse uma serpente de bronze e a colocasse numa haste, e todos que fossem envenenados pela “picada da serpente”, se olhassem para a “serpente de bronze” levantada no deserto viveriam (Números 21: 4-9).  

Jesus usou a história da serpente de metal no deserto como uma ilustração da sua crucificação, porque assim como a serpente “forjada” por Moisés livrou da morte os envenenados pelas víboras abrasadoras, Cristo, a “serpente forjada” pelos escribas e fariseus – eles acusaram Jesus de proferir blasfêmias contra Deus – também livra do pecado e da morte àqueles que “olham” (voltam seus olhares) para Ele (João 3: 14-15). Nesse aspecto, a serpente de metal foi um “sinal” da crucificação do Messias.

A VARA DE MOISÉS – É uma passagem muito curiosa a de Êxodo 4. Nunca li ou ouvi uma explicação sobre os “sinais” ordenados pelo Senhor a Moisés para que ele tivesse credibilidade perante o povo de Israel. Paulo nos diz que a palavra da cruz é “loucura para os que perecem”, mas para nós, que somos salvos, é o “poder de Deus”, e como na sabedoria de Deus o mundo não O conheceu pela sua sabedoria (a criação), aprouve a Deus salvar os crentes pela “loucura da pregação” (1 Cor. 1: 18,21). Seguindo este conceito, a vara transformada numa serpente nos traz à memória a Palavra de Deus que é o poder Dele para a salvação do pecador arrependido que nela crê, em contrapartida, a Palavra é a condenação aos que Nela não crêem.

Uma vara ou bordão de pastor tem sua utilidade para defesa e condução do rebanho, então o seu simbolismo é de “apoio” (Hebr. 11: 21), de “domínio”, de “guia”, de “proteção” (Salmos 23: 4), de “correção e juízo” (Isaías 30: 31-32). Já a “serpente” – na Bíblia e na cultura cristã – é sinônimo de Satanás (Apoc. 20: 2), de astúcia (Gên. 3: 1), de prudência (Mat. 10: 16), dos ímpios (Mat. 23: 33), de traição (Gên. 49: 17)... Mas o fato dela se transformar em serpente e depois em vara diante dos olhos dos anciãos de Israel e posteriormente de Faraó, indica que, quem não é do Senhor, não pode conhecer os sinais de Deus porque seus olhos, ouvidos e coração estão endurecidos para a verdade da fé, e é por isso que vemos tantos estudiosos das Escrituras, sejam eruditos ou leigos, “pecando” na interpretação delas, visto que desconhecem seu poder, pois só vêem a “letra”, “bordão e serpente”, e não o prodígio.

A MÃO LEPROSA – Moisés põe a sua mão no seu peito e ela fica leprosa; torna a colocá-la no peito e ela fica sã (Êx. 4). Segundo a Palavra de Deus, “mão” tem conotação de força e poder (Êx. 17: 11; Jer. 15: 21), de sustento e salvação (Salmos 144: 7; Prov. 31: 20), de trabalho ou obra (Prov. 10: 4), de escravidão e domínio (Êx. 18: 10); e o peito (seio) é o lugar do coração, o íntimo de cada ser humano o qual é de conhecimento particular, porém, patente aos olhos de Deus. Portanto “obras de justiça” sem um coração arrependido se tornam em “mãos leprosas”. Trapos de imundície é o termo usado pelo profeta Isaías (Is. 64: 6).

A ÁGUA DO RIO SE TRANSFORMA EM SANGUE – É sabido que o Espírito Santo é o “rio” que flui de Deus; Ele é quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo, por isso que ninguém pode confessar a Jesus como Senhor senão por Ele. A água do rio transmutada em sangue é justamente isso, pois três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam entre si (1 João 5: 8); então, o Espírito dá testemunho de que o sangue de Jesus expia os pecados dos que creem.

L. M. S.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

A CEIA DO SENHOR.

Uma cerimônia tão comum no meio cristão que é celebrada mensalmente deveria ser algo bem compreensível para todos os seus participantes, mas não é. Tentei escusar-me deste assunto, mas não sou o dono da “verdade” e também a “Igreja do Senhor” não é minha; portanto o “Senhor da Igreja” é quem me comanda e nada posso contra a verdade senão por ela (2 Cor. 13: 8).

A minha preocupação em desfazer conceitos adquiridos por tradições é que alguns possam desfalecer pelo caminho, pois assim como está escrito: “Não cozerás o cabrito no leite da sua mãe” (Êxodo 23: 19 e 34: 26; Deut. 14: 21); eu também não quero cozer os meninos na fé com o “leite racional não falsificado” (1 Pedro 2: 2), mas nutri-los para que cresçam e sejam frutíferos na fé cristã. Por outro lado, se o leite racional oferecido for falsificado, não trará o desenvolvimento espiritual aos que dele se alimentam, por causa disso devo administrar somente o legítimo e integral. 

Apesar de minhas reservas, o Senhor me ensinou que só uma casa bem alicerçada pode suportar os vendavais e correntes de águas que se chocarem contra ela (Mateus 7: 25). Então se bons alicerces mantêm uma casa em pé, torna-se necessário que cada crente seja edificado sobre o fundamento da fé cristã composto dos “rudimentos da doutrina de Cristo”, segundo a Carta aos Hebreus capítulo 6 versos 1 e 2.

Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os “primeiros rudimentos das palavras de Deus”; e vos haveis feito tais que “necessitais de leite”, e não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda “se alimenta de leite” não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. (Hebreus 5: 12,13).

Bem! Levando em conta o exposto acima, o ensino correto dos princípios elementares da doutrina de Cristo tais como: arrependimento de obras mortas, justificação pela fé em Deus, batismo, imposição de mãos, ressurreição dos mortos, juízo eterno e (embora Hebreus o cap. 6 não cite) a Ceia do Senhor; deve ser a meta de todo crente que deseja prosseguir no conhecimento da Palavra da Justiça.

Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal. (Hebreus 5: 14).

A CERIMÔNIA.

Festa Ágape (festa de amor) – era um banquete realizado pelos cristãos primitivos antes da Ceia do Senhor ou junto a ela. Em 2 Pedro 2:13 (embora alguns não admitam) e Judas 12, há a menção da “Festa Ágape” ou “festa de amor”. Vejamos:

Recebendo o galardão da injustiça; pois que tais homens têm prazer nos deleites quotidianos; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em seus enganos, QUANDO SE “BANQUETEIAM” CONVOSCO (2 Pedro 2:13).

Estes são manchas em vossas “FESTAS DE AMOR”, 
BANQUETEANDO-SE CONVOSCO, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas;
Judas 1:12

Perceberam a similaridade dos textos? É presumível que ou Pedro leu a Carta de Judas, ou Judas leu a carta de Pedro, pois os textos são semelhantes; também pode ser que eles tenham citado algo que era comum aos primeiros cristãos, as “festas de amor”.   
Portanto, afirmar que “o banquete” do qual Pedro se referiu não seja a “Festa Ágape”, parece-me ignorância ou alguma tendência ritualística (religiosidade superficial).


Jesus quando instituiu a Sua Ceia, Ele a fez na véspera da celebração da páscoa judaica, porque assim como na Pessach* os judeus comemoravam a libertação de Israel do jugo de servidão no Egito e do juízo divino, assim também a Ceia do Senhor vem para celebrar em Cristo a libertação do jugo de servidão do pecado e consequentemente do juízo de Deus que será derramado sobre o mundo, visto que Cristo é o Cordeiro de Deus oferecido pelos nossos pecados, e é por isso que os verdadeiros crentes renascidos não comemoram a páscoa, mas tão somente a Ceia do Senhor.

*Pessach – Páscoa – Passagem – “passar por cima”, como o anjo da morte passou por cima das casas onde viu o sangue nos umbrais das portas, conforme nos diz Êxodo 12: 22,23.

Os primeiros convertidos após o derramamento do Espírito Santo (Atos 2) experimentaram algo impensável às igrejas atuais. “Eles venceram Mamom”; disse certo pastor. Eles vendiam as suas propriedades e traziam aos pés dos apóstolos e nenhum crente padecia necessidade, pois os bens eram partilhados em comum. Mas, onde os cristãos primitivos aprenderam isto? Resposta: Com os apóstolos. Cristo e seus discípulos viviam juntos, comiam juntos, dividiam seus ganhos, seus peixes... Havia também mulheres entre eles – algumas ricas – que serviam a Cristo com os seus bens como Maria Madalena, Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Susana, e muitas outras (Lucas 8: 2,3).

Assim escreveu Lucas em Atos dos Apóstolos capítulo 2, versos 42,44 e 45 ao 47, vejam:

E perseveravam na “doutrina dos apóstolos”, e na “comunhão”, e no “partir do pão”, e nas “orações”. E todos os que criam “estavam juntos”, e tinham “tudo em comum”. E vendiam suas “propriedades e bens”, e “repartiam com todos”, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e “partindo o pão em casa”, “comiam juntos” com alegria e singeleza de coração, “louvando a Deus”, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias, o Senhor acrescentava à igreja, aqueles que se haviam de salvar.

Por estes versos fica fácil compreender o significado da Ceia do Senhor e também o porquê dela estar embutida na festa de amor (festa ágape).

A doutrina dos apóstolos, além de pregar a salvação pela graça do Pai por meio da justificação da fé em Seu Filho, também prega que os justificados pelo sangue de Jesus, doravante ingressam na família de Deus, ou seja, o Seu povo escolhido.

O “perseverar na comunhão” quer dizer que, sendo um membro da família do Senhor, não posso ficar alheio ao sofrimento de meu irmão, e mais, a Igreja não é só uma família, mas é também um corpo, a saber, o Corpo de Jesus Cristo. Todos os irmãos renascidos em Cristo são os membros desse Corpo. E se um membro sofre todos sofrem juntos, e se um deles se alegra todos os demais se regozijam. É nesta doutrina que eu quero viver. E você?

Os crentes além da “comunhão” também perseveravam no “partir do pão”, isto é, nas refeições em comum (festa de amor e Ceia do Senhor), pois logo adiante diz que eles “partiam o pão em casa e comiam juntos” contentes, alegres e numa simplicidade de coração. Eles eram unidos nas orações e velavam uns pelos outros, porque estavam juntos e tinham tudo em comum. Eis o significado da Ceia do Senhor.

Em 1 Coríntios 10, Paulo explica que embora sejamos muitos, somos “um só Pão” e “um só Corpo”, portanto não pode haver divisões entre nós (ricos e pobres, escravos e livres, senhores e servos, clero e leigos) e que o “cálice” que compartilhamos é a comunhão do mesmo sangue, isto quer dizer que participar do cálice da Ceia do Senhor simboliza que somos filhos de um mesmo Pai o qual é Deus.

Muito se tem feito para “mistificar” a Ceia do Senhor dando-lhe ares de “magia”, de algo sobrenatural, como se o cristão que não participar da “cerimônia”, isto é, se ele fisicamente não comer do pão ou beber do cálice, ele morrerá espiritualmente, mas quem pensa assim ainda não entendeu nada da “comunhão” do pão de do cálice.
O que se faz na cerimônia da Ceia é o que se deve praticar diariamente entre os irmãos em Cristo. O pão da Ceia “simboliza” a Igreja, o corpo de Cristo, o cálice simboliza a “identidade cristã”, irmãos consanguíneos, filhos de um mesmo Pai.

Aquele pedacinho de pão que comerei sou eu, renascido em Cristo, pois não vivo mais eu, mas Cristo é quem vive em mim pela fé (Gálatas 2: 20) e o vinho que beberei, o qual os evangelistas grafaram como “Cálice do Novo Testamento do Meu Sangue”, Nova Aliança do Meu Sangue ou Novo Pacto do Meu Sangue em outras traduções, me diz que sou herdeiro da promessa de Abraão, porque fui enxertado na Oliveira de Deus e agora participo da seiva divina, isto é, sou mais um filho de Deus e o sangue de Seu Filho Jesus, o meu Senhor, corre em minhas veias espirituais, e é por isso que não vivo mais escravizado pelo mundo e nem sou servo da avareza, do ódio, da prostituição, dos vícios, da divisão entre irmãos, da torpeza ou do escárnio, tudo porque Deus é Três vezes Santo e o Seu “DNA”, o Espírito Santo, habita em mim (Ezequiel 36: 27 e 37: 14; Jeremias 31: 33). 

A LEITURA OFICIAL.

1 Coríntios 11: 17-34 é a leitura oficial da celebração da Ceia, mas como aconteceu com a própria Ceia, a leitura do desse texto tornou-se apenas mais um rito eclesiástico. Paulo inicia o texto com uma repreensão aos coríntios pela falta de zelo com a unidade da Igreja (versos 17 e 18), pois eles cultivavam divisões entre os irmãos e essa prática profanava as reuniões do Ágape e da Ceia do Senhor; note-se que são dessas dissensões que surgem as heresias (verso 18 e 19). Por isso o apóstolo critica e condena veementemente uma reunião sem a unidade do Corpo como ele mesmo escreveu no verso vinte dizendo: De sorte que, quando vos “ajuntais num lugar” – sem vida em comum, sem a união, sem a prática da fé piedosa, sem o vínculo do amor – não é para comer a Ceia do Senhor. Porque a Ceia do Senhor é justamente o contrário do que os crentes de Corinto faziam (bem familiar aos dias de hoje). A “Ceia” é nula (sem propósito) se não vivermos a comunhão diária entre os crentes.

Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou “desprezais a igreja de Deus”, e “envergonhais” os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo. (1 Cor. 11: 22).

A celebração da Igreja do primeiro século (Ceia do Senhor e Festa Ágape) se dava mais ou menos assim: no primeiro dia da semana eles se reuniam para partir o pão juntos, os mais abastados traziam os alimentos e o vinho para o banquete, mas creio que alguns dos mais pobres também trouxessem algo de comer ou de beber; aqueles que moravam mais próximos do local da reunião ou os mais ricos, geralmente chegavam primeiro, portanto eis a recomendação de esperar uns pelos outros, porque o objetivo da Ceia é o Corpo de Cristo reunido por inteiro, compartilhando da mesa do Senhor numa refeição em comum; havia a oração em conjunto, a leitura e a explanação das Escrituras e possivelmente uma coleta aos irmãos pobres (Mateus 26: 30; Lucas 24: 13,35; Atos 20: 7; 1 Coríntios 11: 21 e cap. 16: 1,2).

Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.
Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. (1 Coríntios 11: 23-26).

TRANSUBSTANCIAÇÃO, CONSUBSTANCIAÇÃO OU SÍMBOLO (MEMORIAL)?

Há duas correntes interpretativas para a Ceia, uma concebida pelo catolicismo e outra pelo protestantismo, mas ambas estão longe do que os cristãos do primeiro século celebravam.

O catolicismo acredita na tese de que na “Eucaristia” (Ceia), o pão (hóstia) se transforma na carne de Cristo e o vinho no Seu sangue após sua consagração numa repetição do sacrifício. A isto eles chamam de “Transubstanciação”.

O protestantismo crê na “Consubstanciação”, isto é, que a carne e o sangue de Jesus estão presentes no pão e o vinho, contudo sem modificá-los, portanto não há a transformação do pão em carne e nem do vinho em sangue.

Qual seria a doutrina correta da Ceia do Senhor? Vamos ler mais um pouco sobre o que a Bíblia diz e poderemos responder a questão.
No Evangelho de João cap. 6 diz que a páscoa dos judeus estava próxima e a grande multidão que viu os sinais feitos por Jesus o seguiu até o outro lado do Mar da Galiléia (Tiberíades). Num monte próximo dali Cristo assenta-se com os seus doze e se compadecido da multidão que vinha ter com Ele realiza a primeira multiplicação dos pães. Então Jesus retira-se deles por causa de suas intenções terrenas (queriam fazê-lo rei). Mas é do outro lado do mar, em Cafarnaum, na sinagoga deles que o Senhor lhes faz um difícil discurso, o do “Pão vivo que desceu do Céu”.

O povo que viu o milagre da multiplicação estava com os olhos tão fixos no pão terreno (físico) que não entendeu nada do que Jesus estava falando quando disse que o “Pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”, pois eles responderam assim: “Dá-nos sempre desse pão”; isto é, sacia-nos a fome, multipliques-nos o pão mais vezes, nós queremos nos abastecer de pão...

Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer? (João 6: 51,52).

No Salmo 78 verso 12 está escrito: “Abrirei a minha boca numa parábola*, falarei enigmas* da antiguidade”. É o que o Senhor fez em João capítulo 6, pois falou em enigmas aos que, desprovidos da fé 
Nele, não podiam entendê-lo.

*Parábola – comparação.
*Enigma – frase obscura, difícil de interpretar, de sentido ambíguo, de difícil compreensão.

Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.
(João 6: 53-57).

A primeira vista nos parece que Jesus está dizendo que na celebração da Ceia nós comeríamos a Sua carne e beberíamos o Seu sangue, mas ele está dirigindo a Sua Palavra aos que esperavam Dele somente neste mundo, àqueles que se fartaram de pão e por causa disso quiseram fazê-lo Rei (João 6: 14,15, 26), então lhes falava por enigmas e parábolas, porque só aos crentes é dado a conhecer o Reino do Céu (Mateus 13: 11; Marcos 4: 11; Lucas 8: 10).  

Chegando ao verso 63 do mesmo capítulo 6 de João, Cristo desfaz qualquer possibilidade de uma interpretação literal daquilo que Ele afirmou sobre a Sua carne e Seu sangue ser comida e bebida: O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida. Entenderam?! O Espírito é quem vivifica o homem; Cristo aqui nos faz voltar à história do primeiro homem que, ao receber do “sopro” de Deus em suas narinas, tornou-se alma vivente (Gênesis 2: 7).

Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito. (Gálatas 5: 25).

A Ceia do Senhor é um símbolo*, um memorial dedicado ao sacrifício vicário de Jesus e os seus elementos, o pão e vinho, “simbolizam” o corpo e o sangue de nosso Senhor.

*Símbolo – 1. Tudo o que “representa”, “sugere” ou “substitui” alguma coisa; ex: a balança é o símbolo da justiça; a pomba é o símbolo da paz. 2. Emblema, “figura que representa” objeto ou ideia abstrata.

OS ELEMENTOS DA CEIA DO SENHOR.

O pão da Ceia deve ser obrigatoriamente sem fermento (ázimo)?

R. O pão usado por Cristo na instituição da Sua Ceia foi o pão ázimo, sem fermento. Sendo um símbolo do Corpo de Cristo, isto é, da Igreja, e sendo o fermento um símbolo do pecado e das obras mortas (1 Cor. 5: 6-9), por isso conclui-se que o pão deve ser necessariamente sem fermento. Contudo, na qualidade de símbolo (representação), o importante não é a substância do elemento, mas a substância da Igreja representada pelo pão.

O vinho da Ceia deve ser sem álcool?

R. Há quem defenda o uso do vinho sem álcool (suco de uvas) e também do pão sem fermento porque Jesus usou pão ázimo para celebrar a Sua Ceia, visto que na páscoa todo o fermento era banido das moradias dos filhos de Israel (Êxodo 12: 15), contudo não há registro de que Cristo e seus discípulos beberam suco de uvas, mas Paulo, ao disciplinar os crentes de Corinto, nos deixou uma clara menção de que o vinho bebido por eles nas celebrações da Festa Ágape e Ceia do Senhor era vinho fermentado (alcoólico). Veja: Porque ao comer antecipadamente, cada um toma a sua própria ceia – não a do Senhor – assim um tem fome e outro “se embriaga” (1 Cor. 11: 21). Ninguém consegue embriagar-se com suco de uvas, portanto o vinho que eles bebiam era alcoólico. Outros creem que podem fazer a celebração da Ceia com pão comum e vinho alcoólico, o importante é sabermos que a comida não nos faz agradáveis a Deus e que o Seu Reino não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo (1 Cor. 8: 8; Rom. 14: 17).

CONCLUSÃO.

A "Ceia do Senhor" visa a comunhão do Corpo de Cristo, a reunião em união de todos os membros da Igreja, e não sua divisão, portanto, não importa qual é a substância dos elementos da Ceia (pão e vinho fermentados ou não), mas a qualidade dos participantes da Mesa do Senhor. Há um relato que li a respeito de soldados cristãos que lutaram na Segunda Guerra Mundial e que, por não terem pão e vinho para celebrar a Ceia do Senhor, eles utilizaram o que tinham a mão: casca de batatinha no lugar de pão, e água no lugar de vinho. O nosso Senhor Jesus Cristo espera pacientemente o dia em que desposará a Sua noiva pura e sem mácula, até lá, cresçamos no conhecimento do nosso Deus. Amém!

L. M. S. 

segunda-feira, 2 de maio de 2016

TEOFANIA E CRISTOFANIA

Teofania: é um conceito de cunho teológico que significa a manifestação de Deus em algum lugar, coisa ou pessoa. Tem sua etimologia enraizada na língua grega: "theopháneia" ou "theophanía". É uma revelação ou manifestação sensível da glória de Deus, ou através de um anjo, algo surreal ou através de fenômenos impressionantes da natureza também chamados de aparição. Em teofania Deus usa desse método para aparecer a alguém em especial para mostrar ou revelar fatos do presente ou do futuro.

Cristofania: é um termo técnico da teologia cristã utilizado para designar as aparições de Cristo pré-encarnado ocorridas no Antigo Testamento.

Segundo várias posições teológicas, exemplos de cristofanias teriam ocorrido através de:
a) o Anjo do Senhor (Anjo de Jeová, conforme idioma original da Bíblia) que fez vários contatos com personagens bíblicos;
b) o Anjo da Revelação ou Anjo da Presença que instruiu a Torá para Moisés no monte Sinai (Jb. 1:27; 2:1);
c) o Anjo da Providência que guiava o povo de Israel pelo deserto através de uma constante nuvem;
d) o sacerdote Melquisedeque que recebeu o dízimo de Abraão.
e) um dos três mensageiros celestiais que visitaram Abraão para anunciar o nascimento de Isaque e Jacó e a destruição de Sodoma (Gn. 18:1–2, 10, 13);
f) o quarto homem visto por Nabucodonosor na fornalha ardente quando condenou Sadraque, Mesaque e Abede-Nego;
g) o anjo Príncipe do Exército do Senhor que foi adorado por Josué (Js. 5:14);
h) o Arcanjo Miguel, Príncipe do Povo de Deus (Dn. 10:13, 21; 12:1) e Líder dos Exércitos Celestiais (Ap. 12:7);
i) o Anjo que visitou a Gideão debaixo do carvalho de Ofra ( JZ 6:11);
j) o anjo que apareceu para Manoá, pai de Sansão, quando foi dar a notícia de seu nascimento.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Leiamos Hebreus cap. 2, versos 2 ao 4: Pois se a PALAVRA FALADA PELOS ANJOS permaneceu firme, e toda transgressão e desobediência recebeu justa retribuição, como escaparemos nós, se descuidarmos de tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram: testificando Deus juntamente com eles, por sinais e prodígios, e por múltiplos milagres e dons do Espírito Santo, distribuídos segundo a sua vontade.

Alguém já disse certa vez que devemos fazer um curso de “desteologia” por tanta coisa errada que nos ensinaram no seio eclesiástico; creio que essa tal cristofania é uma delas.

ANJO DO SENHOR – é Deus ou Jesus? Se fosse; quem é então esse Anjo do Senhor que aparece nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos? Veja:

E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu “UM ANJO DO SENHOR”, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo;... E José, despertando do sono, fez como “O ANJO DO SENHOR” lhe ordenara, e recebeu a sua mulher; (Mateus 1: 20,24).

Alguns dizem que para ser uma teofania ou cristofania, “anjo do Senhor” deve ser precedido do artigo “o”, pois se o artigo estiver ausente então trata-se de “um anjo” qualquer,  mas não há diferença entre “UM” ANJO DO SENHOR e “O” ANJO DO SENHOR para o evangelista Mateus, tal distinção só se faz na cabeça de alguns teólogos.

E, tendo eles se retirado, eis que O ANJO DO SENHOR apareceu a José num sonho, dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga; porque Herodes há de procurar o menino para o matar. (Mateus 2: 13).
                          
E eis que O ANJO DO SENHOR veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. (Lucas 2: 9-11).

E “o anjo do Senhor” falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta (Atos 8: 26).

E no mesmo instante feriu-o “o anjo do Senhor”, porque não deu glória a Deus e, comido de bichos, expirou (Atos 12: 23).

E eis que sobreveio “o anjo do Senhor”, e resplandeceu uma luz na prisão; e, tocando a Pedro na ilharga, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa. E caíram-lhe das mãos as cadeias (Atos 12: 7).

Veja o que o apóstolo Pedro diz a respeito do tal anjo no verso 11do mesmo capítulo: E Pedro, tornando a si, disse: Agora sei verdadeiramente QUE O SENHOR ENVIOU O SEU ANJO, e me livrou da mão de Herodes, e de tudo o que o povo dos judeus esperava”. 

Prestaram atenção?! O Anjo do Senhor é nada mais nada menos que um anjo “enviado” pelo Senhor, e não “O Senhor”.

Teofania é uma aparição, uma manifestação fenomenal, uma revelação de Deus aos homens, como a sarça ardente, a coluna de nuvem, a coluna de fogo ou um anjo que fala em Nome do Senhor.

Significado de Manifestação: o ato tornar público, de expressar um pensamento, uma ideia, um ponto de vista; ato de revelar o pensamento. Fonte: www.dicio.com.br


DEUS NUNCA FOI VISTO POR ALGUÉM. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou. (João 1: 18).

NINGUÉM JAMAIS VIU A DEUS; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor. (1 João 4: 12).

O ponto central da questão é que se somente Jesus Cristo revelou o Pai, pois quem vê o Filho, vê o Pai (João 14: 9; Lucas 10: 22; Mateus 11: 27; Hebreus 1: 3), então se o Anjo do Senhor fosse Deus ou Jesus pré-encarnado, como é que esse anjo apareceu após o nascimento (encarnação) de Cristo avisando José em sonhos, orientando Filipe, ferindo Herodes, libertando Pedro da prisão?
Se ninguém jamais viu a Deus (1 João 4:12), como é que os teólogos podem afirmar o anjo do Senhor visto pelos antigos era Deus? Por essas e outras vemos verdadeiros “virados teológicos” que nos querem fazer engolir esses “letrados”.

Há uma passagem em Êxodo 4 em que Moisés está tentando escusar-se do chamado divino, e o anjo do Senhor, à respeito de seu irmão Arão, lhe diz: E TU LHE FALARÁS, e PORÁS AS PALAVRAS NA SUA BOCA; e eu serei com a tua boca, e com a dele, ensinando-vos o que haveis de fazer. E ELE FALARÁ POR TI AO POVO; e acontecerá que ELE TE SERÁ POR BOCA, E TU LHE SERÁS POR DEUS (versos 15 e 16).

Viram?! Da mesma forma falaram os anjos e os profetas, os quais nada mais foram que “mensageiros” (malach em hebraico; ángelos em grego) enviados por Deus para ministrar a Sua Palavra, Jesus o Cristo, o Verbo de Deus. 


L. M. S.